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Simon e Blue – Ultrapassando as barreiras do “virtual”


Todo mundo precisa de atenção. E não digo atenção no sentido de estar diante dos holofotes, mas de ter alguém que te escute. Alguém disposto a te dar o bom e velho ombro amigo no momento em que mais precisamos. Graças à internet, as barreiras que limitam essa identificação entre pessoas têm sido quebradas. Na rede, há uma infinidade de pessoas com quem podemos compartilhar um pouco de nós, nossas experiências e realidades, e receber na mesma medida. Mesmo sob olhares que desacreditam nas relações virtuais, só quem nutre esse tipo de laço sabe que é tão importante quanto qualquer relação que podemos construir pessoalmente.

É nesse contexto que destaco a construção Simon vs. A Agenda Homo Sapiens. Nosso protagonista, Simon, tem seus segredos. Segredos que, se compartilhados, Simon não tem sequer ideia de como as pessoas ao seu redor lidariam. É em um momento de desabafo em um Tumblr anônimo que ele acaba encontrando Blue, seu correspondente virtual que dá luz à trama.

“[…] Sabia que este é oficialmente o e-mail mais longo que já escrevi? Sério. Você deve ser a única pessoa que recebe mais do que 140 caracteres de mim. Isso é meio incrível, né? ”
“Eu sou a única pessoa? É meio incrível mesmo. Me sinto honrado, Jacques. É engraçado, porque também não costumo mandar e-mails. E nunca falo sobre essas coisas com ninguém. Só com você. […]”

Esse trecho do diálogo entre Simon (usando o pseudônimo de Jacques) e Blue no segundo capítulo do livro mostra essa identificação quando encontramos alguém que mesmo com sua individualidade tem a ver conosco e compreende pelo que estamos está passando. Gradualmente, Becky Albertalli nos presenteia com capítulos intercalados de conversas entre os dois garotos e outros sob a perspectiva de Simon. É interessante nessa construção que enquanto por um lado podemos extrair das conversas aquele sentimento de familiaridade e afeto, de um lugar só deles entre as paredes da realidade, vemos também como Simon lida com o que para ele é uma dádiva.

Esse é um espelho da nossa sociedade atual. É utópico afirmar que a internet é um espaço sem riscos e sem pessoas mal-intencionadas, mas as possibilidades de comunicação são diversas. Talvez seja pelos perigos que as pessoas optem pelo preconceito ao olhar para os contatos que possuímos na rede. Mas fechar os olhos para o bem que podemos usufruir é ignorância. Simon, um adolescente homossexual, que antes de encontrar sua contraparte em uma rede social se sentia oprimido por não poder ser ele mesmo, acaba por ganhar um novo ar em seus dias por finalmente poder se abrir com alguém, mesmo que não pessoalmente.

Sim, tudo bem, Simon é um personagem fictício. Blue também. Mas o que esses jovens garotos passam está muito distante do que acontece na realidade? Não mesmo. Dado o contexto, podemos estar no centro de relações tão sufocantes que em um primeiro momento não conseguirmos mostrar ao mundo quem somos de forma plena.

Vai aí um trecho em que Blue conta para Simon (A. K. A. Jacques) como foi expor para a mãe que é homossexual, sendo que ele claramente reuniu coragem para tanto com o apoio de seu amigo virtual.

“Jacques, eu consegui. Contei para ela. Quase não dá para acreditar. Ainda estou me sentindo muito agitado e nervoso. Estou me sentindo outra pessoa. Provavelmente não vou conseguir dormir hoje. Acho que ela encarou bem. Nem mencionou Jesus na conversa. […] ”
“Blue,
Para tudo! Estou tão orgulhoso. Eu abraçaria você agora se pudesse […]”

Esse é o momento em que fico relembrando o livro e com vontade de chorar de saudades.

É por essas e outras devemos brindar Albertalli! Sutilmente, a autora nos diz com doçura e sensibilidade que amizade e amor podem ser encontrados em qualquer lugar, perto ou longe, seja na vida “real” ou virtual, sendo que no fim podem ser a mesma coisa. A linha que separa esses dois lados é muito estreita. então porquê não derrubá-la? Só quem tem amigos virtuais sabem o valor que eles possuem. <3


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Valdesson

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