Autor: Letícia Wierzchowski
Editora: Globo Livros
Páginas: 152
Classificação: 4/5 estrelas
O romance juvenil da autora gaúcha Letícia Wierzchowski foi o lançamento de março da Globo Livros e minha primeira experiência com a autora, que só conhecia pelo meu contato com ela foi através da série da TV Globo, A casa das sete mulheres, exibido em 2003. O livro tem uma capa fofa que traduz exatamente como o livro é, no estilo uma andorinha só não faz verão, além de ser muito bem revisado e diagramado, ponto para a Globo Livros.
Narrado em primeira pessoa, sendo Clara a narradora e protagonista do livro, ela nos conta um pouco da sua vida e dos verões passados no balneário de Pinhal (litoral gaúcho), especificamente ela relata o verão dos seus 14 anos.
Clara, filha mais velha de Flávio e Madá, irmã de Vica e Paula, mora em Porto Alegre, passa os verões na praia de Pinhal na casa herdada pelos avós Jan e Anna. Todo mês de dezembro logo após o Natal sempre é a mesma coisa, a família arruma uma grande bagagem e passa todo o mês de janeiro e fevereiro na casa de praia. Lá sempre encontra sua grande turma de mais ou menos 10 adolescentes composta por primos, vizinhos e amigos. Num tempo relatado por ela em que não existia internet e que a comunicação era apenas por telefone ou cartas, reencontrar a galera era uma grande felicidade.
O verão era um tempo sem horários, um tempo de liberdade e de amigos…
De acordo com Clara, seus pais eram um casal estranho, na deles, pouco se falavam. Quando estavam juntos, a alegria do pai se transformava em silêncio e a tristeza da mãe em mágoa. Quando brigavam, ela e as irmãs se escondiam no quarto para não ouvir, mas Clara como sendo a irmã mais velha, já entendia perfeitamente que os pais não tinham um casamento feliz e ouvindo uma dessas brigas já sabia que o pai tinha um relacionamento extra conjugal.
Ela e seu grupo de amigos passavam o dia inteiro na praia, jogavam vôlei às tardes, faziam programas simples, iam para as casas um dos outros, as mães preparavam lanches, jogavam jogos de tabuleiros, iam ao centrinho de Pinhal e ficavam pelas calçadas tomando sorvete, refrigerante, tocavam violão, eram fãs de Legião Urbana, Marina e Blitz, viam o movimento da rua e o principal, paqueravam.
Numa dessas paqueras, Clarinha começa a namorar Deco, seu amigo de turma, um adolescente de Porto Alegre, lindo, querido, filho de conhecidos dos pais, estudioso, educado e gentil. Os pais de Clara dão o aval para o namoro, porém regrado de horários para chegar em casa e onde ir. E é aí que a protagonista se vê no seu maior desafio para uma menina de 14 anos, as dúvidas! Dúvida de como dar o primeiro beijo, dúvida se é bonita ou não, dúvidas, dúvidas e mais dúvidas… e o pior, sem nenhum tipo de ajuda da mãe, já que essa está mais preocupada com o marido e sua amante.
A medida que o verão vai passando, o relacionamento do casalzinho vai se aprofundando e é quando Deco dá uma grande pisada de bola com Clara. A personagem se vê numa situação difícil tendo que lidar com sentimentos que ela mal sabia que existiam, como inseguranças, raiva, perdão e superação!
Todo mundo erra. Todo mundo mesmo, cedo ou tarde. Seja namorado ou amigo, todo mundo erra nessa vida…
Posso falar? Amei esse livro, a autora escreve muito bem, um livro que atinge tanto adolescentes quanto adultos. Os sentimentos que senti ao lê-lo, não sei nem explicar, de tão profundos. Eu fui catapultada para a minha adolescência, todos os sentimentos da Clara são tão reais e verdadeiros que parecia que estava revivendo essa fase da minha vida e os verões que passava na casa de praia dos meus pais! Muito bem construído e desenvolvido. Eu apenas lamento o quão breve foi o livro, acredito que poderia ter sido um pouquinho maior, mas compreendo que deve ter sido para não ficar muito repetitivo.
A grande cartada do livro foi realmente formar esse elo com o leitor, a empatia. Todos os medos vividos pela personagem nós já passamos (no caso eu que tenho mais de 30 anos) ou passarão. O fim de verão e o reinício das aulas sempre é um recomeço do ciclo. Um dos últimos acontecimentos do livro, que para mim foi o ponto alto e melancólico da história, amedronta todos nós todos os dias, e não foi diferente com Clara, temos que lidar com o sentimento da perda de uma forma ou de outra em diferentes níveis, fazendo-nos sempre pensar em como temos que viver o agora e nunca deixar nada para depois.
O primeiro e o último verão me tocou, um belo livro para se ler em família, o meu exemplar vai ficar guardadinho comigo e sem dúvidas vou passar um dia para um filho meu ler!
Quando a gente vive coisas difíceis demais para a nossa idade, acaba passando por elas sem entendê-las completamente. A gente vai vivendo, tocando os dias, os meses. Quando vê, anos se passaram.
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