RESENHA | “Até Que a Culpa Nos Separe” – Liane Moriarty

Depois do sucesso de O Segredo do Meu Marido e Pequenas Grandes Mentiras, a Intrínseca lança o mais recente livro da autora Liane Moriarty, australiana de 50 anos que está em seu sétimo livro. Sempre gosto de comparar as capas, e ponto para a editora que não manteve a capa gringa, a nossa é muito mais bonita, mais chamativa e condiz com o conteúdo do livro.

A história gira em torno de três casais: Clementine e Sam, que possuem duas filhas, Holly e Ruby, 5 e 2 anos, respectivamente, são desorganizados, vivem perdendo as coisas, Clementine é violoncelista e está se preparando para um teste na orquestra da Câmara Real de Sidney e Sam se encontra num novo emprego de marketing; Érika é amiga de infância de Clementine, casada com Oliver, não possuem filhos, contadores bem sucedidos, obsessivos com organização, não gostam de receber visitas; Vid e Tiffany são vizinhos de Érika e Oliver, ricos, possuem uma casa ampla e maravilhosa, é o segundo casamento de Vid e possuem Dakota de 10 anos como filha.

Tudo começa quando Vid resolve convidar Érika e Oliver para um churrasco no jardim, como esses já haviam combinado de tomar um chá com Clementine e Sam, o convite é estendido para eles também. A história é narrada em terceira pessoa, com capítulos no presente e no passado. O passado é o dia do churrasco e o presente, 2 meses após esta data. Os capítulos também são intercalados com pontos de vistas dos personagens e a autora inicia sua história de maneira lenta e gradativa, construindo e desenvolvendo de um modo totalmente viciante, que revela e entrelaça a história de cada personagem e suas ligações, aos poucos mostrando o que ocorreu no fatídico dia do churrasco.

Havia algo estranho naquela formação, muito espaço entre eles, como se não fossem dois casais que se conheciam bem, mas quatro convidados individuais que nunca tinham se visto e por acaso estavam chegando juntos.

Para minha primeira leitura de Liane, posso dizer que estou completamente encantada e totalmente perturbada com a escrita dela e principalmente com as abordagens feitas em toda a história. As verdades nuas e cruas são jogadas na sua cara com tal simplicidade que você vivência cada situação pelo realismo que transmite, e o que mais me chamou a atenção foi exatamente isso: cada um de nós poderíamos ser um dos personagens ou estar vivenciando algo que ocorreu a eles.

A história basicamente relata o cotidiano desses três casais, aborda assuntos que vão desde a luta de uma mulher por um emprego melhor até a frustração de um homem por ter conseguido um bom cargo numa empresa mas não sabe se está feliz nele ou então divergências entre um casal para cuidar das filhas, as discordâncias entre amigas de infâncias e os sentimentos que geram como ciúmes, inveja. E aborda também assuntos muito difíceis como transtorno obsessivo, acumulação, stress pós traumático e até abnegação (não vou falar de quê, prefiro deixar um mistério no ar).

Acho que todos nós temos motivo para nos sentirmos culpados sobre aquela tarde.

Mas além de todos esses assuntos abordados no livro, a escrita da autora vai fazendo você seguir uma linha de raciocínio e quando você supõe saber o que aconteceu no dia do churrasco, Liane vem e te dá uma rasteira, te deixa de queixo caído, e se pergunta: “Não acredito que foi isso que aconteceu!!“, mais uma vez ela traz um acontecimento tão real, tão dramático e que faz muito jus ao título do livro. Não é à toa que esses casais ficaram tão impactados a ponto de colocar o relacionamento em prova.

A criação da história, personagem e desenvolvimento são perfeitos, a autora não deixa nenhuma ponta solta. Se você gosta de mistério e drama, com assuntos tão verdadeiros, essa é uma leitura obrigatória! Eu gostei e já quero muito ler os outros livros de Liane Moriarty.

Podemos lutar muito mais alto quando temos um lugar seguro onde cair.