RESENHA INTRINSECA | “Cidade dos Etéreos” – Ransom Riggs

Neste segundo livro, o grupo de peculiares precisa deter um exército de monstros terríveis, e a srta. Peregrine, única pessoa que pode ajudá-los, está presa no corpo de uma ave. Jacob e seus novos amigos partem então rumo a Londres, cidade onde os peculiares se concentram. Eles têm a esperança de, lá, encontrar uma cura para a amada srta. Peregrine, mas, na cidade devastada pela guerra, surpresas ameaçadoras estão à espreita em cada esquina. E, além de levar as crianças a um lugar seguro, Jacob terá que tomar uma decisão importante quanto a seu amor por Emma, uma das peculiares.

Telecinesia e viagens no tempo, ciganos e atrações de circo, malignos seres invisíveis e um desfile de animais inusitados, além de uma inédita coleção de fotografias de época — tudo isso se combina para fazer de Cidade dos etéreos uma história de fantasia comovente, uma experiência de leitura única e impactante.

Ao contrário de várias séries que caiem na maldição do segundo livro, Ransom Riggs eleva sua obra a outro nível. A sequência da trilogia Orfanato da Srta Peregrine começa exatamente a partir do ponto em que o primeiro terminou. A surreal saga das crianças peculiares finalmente teve a sua vez no Brasil, ostentando uma edição luxuosa de capa dura, publicada pela editora Intrínseca.

Cidade dos Etéreos adota um tom mais sombrio, uma aura negra pesada ao limite do que poderíamos encontrar em livros juvenis. O amadurecimento de Jacob diante das dificuldades enfrentadas reflete o próprio crescimento da escrita do autor. Se antes tínhamos a sensação de que o universo criado estava minimamente explorado, agora perseguimos nossos heróis por fendas temporais com grandes doses de aventura.

No decorrer da leitura, conhecemos mais da mitologia criada pelo autor e o conceito das fendas temporais é desconstruído aos poucos para a nossa compreensão. Expandir o próprio universo, como bem sabemos, é uma tarefa nada fácil, mas Riggs foi bem feliz em cada escolha que fez. A ambientalização, então, é um show à parte! Como uma ponte que nos liga a nossa realidade histórica, a obra é bem contextualizada com cenários de guerra, o que seria um risco nas mãos de alguém sem a habilidade de desenvolver uma ideia tão rica.

Os personagens, outrora apenas coadjuvantes, aqui recebem maior destaque. A narrativa, embora desenvolvida sob o olhar de descoberta de Jacob, acompanha bem os momentos de foco em cada um. São como sub-arcos dentro de um maior, onde suas peculiaridades brilham. Desenvolvi um afeto muito que especial por Millard, o garoto invisível e impetuoso, mas em contrapartida uma antipatia por Enoch. O interessante é que no encarte do livro o autor explica que cada personagem reflete uma das características de sua personalidade.

A sequência final, após uma grande reviravolta, é de tirar o fôlego. Minha vontade foi de jogar o livro na parte final HAHAHAHAHA!!!! Jacob abraça a sua essência e deve tomar as primeiras de muitas decisões para o grande desfecho de sua batalha em Biblioteca das Almas, o último livro da trilogia, em busca da salvação do mundo das Crianças Peculiares e do nosso mundo.

E preciso destacar as fotografias que, obviamente, são maravilhosas! Diferentes do anterior, onde Riggs foi construindo sua narrativa em cima das fotos, em Cidade dos Etéreos ele buscou fotos (reais) que mais se encaixassem em suas passagens, e o resultado final não decepciona a ninguém!

É amor, mas não é exagero. Se você gostou do primeiro livro ou não te agradou tanto, dê uma chance para Cidade dos Etéreos que não vai se decepcionar. Agora deixa eu regressar para minha fenda temporal até que a Intrínseca resolva nos agradar com o Library of Souls! =P