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RESENHA ROCCO | “Jovens de Elite” – Marie Lu


Autora:  Marie Lu
Editora: Rocco
Páginas:
 304
Classificação:
4.5/5 estrelas

Me jogar de cabeça em uma leitura tão cultuada por leitores de todo canto, além de, para completar, prometer uma anti-heroína digna de Magneto (X-Men), não foi uma barreira muito grande de se ultrapassar, além daquele medinho no fundo do estômago de me decepcionar, é claro. Depois de ter devorado as páginas de Jovens de Elite, primeiro livro da trilogia que só agora está sendo publicada pela editora Rocco, gostaria de dizer que não estou nada bem com os meus sentimentos!

Eu sou Adelina Amouteru, os fantasmas sussurravam para meu pai, pronunciando meus pensamentos mais assustadores em um coro de vozes que gotejavam ódio. Meu ódio, Não pertenço a ninguém. Esta noite, juro me erguer acima de tudo o que você já me ensinou. Vou me tornar uma força que este mundo nunca conheceu. Terei tanto poder que ninguém ousará me machucar de novo.

O livro é o segundo trabalho de Marie Lu, autora da consideravelmente aclamada trilogia Legend, também publicada no Brasil pela Rocco. Confesso que por Legend nunca despertou muito meu interesse, mas para a nova investida de Lu eu estava contando os dias para o lançamento, e a espera valeu a pena.

A história acompanha a trajetória de Adelina, uma garota que sofre maus tratos em casa devido a uma deformidade consequente de uma doença que assolou o mundo anos antes, matando uma grande parte da população e deixando diferentes efeitos colaterais nos jovens sobreviventes. Após um decisivo acontecimento e o que veio a seguir, Adelina é salva pelos Jovens de Elite, um grupo de sobreviventes da devastadora febre, mas que junto às suas deformidades adquiriram também poderes que são motivo de medo para toda a sociedade.

Ok, pela breve sinopse apresentada parece se tratar de mais uma história com a famigerada fórmula distópica. Mas, meus queridos, não se enganem. Adelina é levada para a autora para uma rede de mentiras, política e interesses pessoais em que o leitor custa a decidir se há mesmo um lado certo. O livro não peca NO que diz respeito a imprevisibilidade e não foca muito em questões românticas para que a maior parte da história não nos passe uma imagem tendenciosa que possa dar muitos indícios das escolhas da protagonista.

Há bondade em seu coração – reconhece ele. – Mas a escuridão sobrepuja tudo isso; seu desejo de ferir, destruir e se vingar é mais poderoso que o desejo de amar, ajudar e iluminar o caminho.

Falando da Adelina, confesso que sou impaciente. O livro é narrado por ela em quase todo seu teor, então nos primeiros capítulos eu me peguei refletindo: “é essa a grande anti-heroína prometida?”. Como fiquei feliz por estar redondamente enganado. A autora vai compondo a essência de sua personagem aos poucos, cada caminho escolhido levando-a para sua verdadeira essência. É quase como um karma ao qual não se pode fugir, com Adelina a abraçar sua verdadeira essência. As reviravoltas são fundamentais, baseando-se em mal-entendidos e traições que refletiam apenas interesses por objetivos maiores de vários personagens chave. Contudo, não há como fazer um julgamento coerente sem tentar enxergar pela visão de cada um deles.

E sim, há outros personagens que trazem novas perspectivas para quem está de fora. É impossível não se apaixonar por Raffaele, hipnotizante tanto na história quanto para quem lê. E há uma importância significativa no decorrer da obra, além de mostrar indícios de nutrir sentimentos amorosos pelo líder do grupo, Enzo, que será uma peça chave para futuro da moça a ponto de ser consumida por suas sombras. Já o considerado “vilão” da história (se é que podemos determinar isso no livro), Teren se mostrou tão apaixonante e odiável ao mesmo tempo que fiquei a maior parte do tempo sem saber como lidar com isso. A ambivalência do rapaz é de enlouquecer.

Tudo isso desenvolvido num cenário alternativo e muito sombrio da Renascença Italiana, ideal para fãs de X-Men e o O Trono de Vidro, onde cada capítulo a ansiedade e as sombras do coração de Adelina consomem ainda mais o leitor! Maldita-bendita seja essa Marie Lu por construir uma aventura juvenil inquietante como eu não via há tempos. Mais do que uma mistura de Magneto, Darth Vader ou qualquer vilão/anti-herói em que a autora diz ter se inspirado, Adelina me pareceu muito mais única em sua essência. Seu sofrimento não nos cansa, mas nos comove, e nos faz torcer para que ela tome apenas a “menos pior” decisão, pois querendo ou não, parece sempre levar a uma consequência catastrófica.

Sussurrarão sobre mim. Terei inimigos espreitando em todas as sombras. Deixe que falem. Deixe que o medo que têm de mim cresça. Isso será bem-vindo.

O final, é claro, é de se ficar boquiaberto e de temer pelo que virá a seguir em Rose Society, segundo volume da série. Totalmente ansioso para ver o que a danadinha da Marie Lu reservou para nós. Uma dica? Não o leia tão rápido. Li em uma tarde e agora estou em uma ressaca literária daquelas. Mas, acima de tudo, dê uma chance e leia, são poucos os livros que destoam e Jovens de Elite brilha em um mar de juvenis pálidos e sem sabor.


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Valdesson

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