Editora: Galera Record
Páginas: 288
Classificação: 3.5/5 estrelas
Que o gênero distopia está mais do que batido no mercado literário todos nós sabemos, e depois de bestsellers como Jogos Vorazes e Divergent, fica difícil aparecer algo mais interessante. Os autores estão precisando, literalmente, se desdobrar. Mas Anna Carey para escrever seu livro usou de um tema de referência que todos nós já ouvimos pelo menos uma vez em nossas vidas para criar algo novo.
Imagine um mundo devastado por um vírus onde um homem tem a brilhante, ainda que cruel, ideia de fingir ser Deus e desenvolver várias “Evas” para recomeçar a humanidade. Com a população americana devastada após os últimos acontecimentos e sem direção para se reerguerem, um homem decide tornar-se o Rei e aplicar a ordem para que todos possam finalmente seguir em frente para um futuro melhor. Entretanto, em “todos”, ele não inclui os órfãos. Para essas pessoas, há um plano maior.
“Parideiras? É isso o que somos?”
“Isso pode ser do que somos chamadas, mas não é o que somos.”
Eva, a protagonista e não a personagem biblica, vive junto a outras garotas e acreditava no que esse Rei pregava, que fora dos muros de sua escola havia um futuro promissor, mas o que ela logo descobre é que o plano maior do Rei é que órfãs como ela seriam usadas como procriadoras. Após atingirem certa idade, elas são presas a macas e ano a ano devem trazer ao mundo as crianças que integrarão a nova sociedade criada após a queda do mundo como conhecia. Quando Eva descobre o que a espera, ela decide deixar a todos que ama e correr para o desconhecido por alguma chance de sobrevivência.
Logo, ela descobre que apesar de todas as mentiras que ouviu enquanto crescia, algumas eram verdades. O mundo depois do Muro é selvagem e uma menina que foi criada para ser culta não tem chances de sobreviver. Obrigada a confiar em um grupo de garotos e uma garota com quem nunca se deu bem, Eva precisa se adaptar ao desconhecido enquanto busca por uma chance de sobrevivência.
Está tudo bem, Eva. Não vou deixar você para trás.
Nossa protagonista, Eva, é boba, frágil, mas também se mostra forte, corajosa e fiel, e sua inocência proporciona trechos tão engraçados, em contrapartida essa mesma inocência certas vezes chega a ser irritante ao ponto de querer sacudir a garota para ver se toma jeito. Já alguns personagens secundários se mostram interessantes, mas sem espaço para evoluir e mostrarem do que são capazes. Aliás, uma característica que me incomodou bastante foi o quão curto Eva é. Com um potencial grande, o livro poderia ter se estendido mais — não se engane com as quase trezentas páginas, parte disso se deve a diagramação – e quando a história começa a pegar fogo, puff!, acaba.
Eva, em suma, foi um misto de emoções. Por um lado, é um tema diferente abordado pela autora. Depois de tantas distopias, poder apontar uma que soube pincelar e investir em algo diferente, mesmo que com um cenário bem similar ao que encontramos em várias distopias por aí, é refrescante. Mas, por outro lado, fica aquela sensação agridoce por se tratar de um jovem adulto de poucas páginas, sem muita ousadia para proporcionar uma narrativa mais cruel e insana (fica a dica, Stephen King). Não desmerecendo Anna Carey, claro, mesmo com seu livro “passional”, ela soube dar uma chacoalhada em meu coração, com alguns trechos bonitos e emocionantes, mas espero que suas sequências sejam mais ousadas.
O amor nunca vai embora, mesmo que a pessoa vá.
Mal posso esperar pra ter esse livro em mãos. Adoro distopias!